Polícia Civil conclui que PMs mataram jovem em Fortaleza 'em legítima defesa'; pai da vítima contesta
Jardeson Rodrigo Rodrigues Martins, de 21 anos, foi morto em fevereiro deste ano.
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Por G1 CE
16/08/2020
A Polícia Civil do Ceará concluiu que Jardeson Rodrigo Rodrigues Martins, de 21 anos, estava na posse de uma arma de fogo e que os policiais militares que atiraram nele agiram "em legítima defesa". A família do jovem contesta essa versão, nega que ele estivesse armado e afirma que Jardeson foi morto pelas costas.
Jardeson foi baleado em uma intervenção policial no Bairro Padre Andrade, em Fortaleza, na madrugada de 13 de fevereiro deste ano.
Conforme a Polícia Civil, o 7º Distrito Policial foi o responsável por investigar uma ocorrência de pessoas armadas nas redondezas da Areninha da Lagoa do Urubu, que culminou em troca de tiros com a Polícia Militar do Ceará (PMCE).
"Durante a troca de tiros, Jardeson Rodrigo Rodrigues Martins (21), com antecedentes criminais por roubo e desacato, foi lesionado e socorrido com vida para unidade hospitalar, no entanto veio a óbito. A arma que estava em posse de Jardeson Rodrigues foi apreendida e os fatos foram apresentadas ao 7°DP", afirma a instituição em nota.
"A PCCE informa que a intervenção militar foi em legítima defesa, e as provas colhidas foram remetidas ao Poder Judiciário", afirma ainda a Polícia Civil, em nota.
Os PMs que participaram da ação são investigados administrativamente, pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), que "instaurou procedimento disciplinar para apuração do fato na seara administrativa, estando este, atualmente, em andamento. Devido o caráter sigiloso, não é possível dar detalhes sobre as diligências adotadas".
A Polícia Militar não se manifestou sobre o caso.
Versão da família
O pai de Jardeson, Gilson Rodrigues, rebate a versão da Polícia Civil: "É mentira". "Eles [policiais militares] mataram meu filho de costas. O tiro foi na nuca. Como é que uma pessoa de costas troca tiros com a Polícia?", questiona.
"Estava tendo um campeonato de futebol, que meu filho jogava. Terminou o jogo, ficaram na Areninha. Vinha uma viatura saindo da rua 'voado'. Todo mundo que estava na Areninha saiu correndo. Eles [PMs] saíram correndo atrás do meu filho, que se abaixou atrás de umas plantas, do jardim de uma residência. Quando meu filho pensou que eles já tinham voltado, ele se levantou e saiu correndo. Eles deram só um tiro na nuca do meu filho", conta Gilson.
Um vídeo mostra o exato momento em que Jardeson é baleado de costas e cai. Nenhuma arma de fogo aparece nas imagens, e o pai do jovem garante que o mesmo não andava armado. Depois, os policiais militares retiram o rapaz do local para levá-lo à viatura e, em seguida, à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Pirambu.
Gilson reclama da Polícia Civil, que o ouviu apenas uma vez após o filho ser baleado e passou seis meses sem dar informações da investigação à família do jovem morto - ao ponto de ele saber da conclusão do inquérito policial pela reportagem.
"Como eles tomaram a decisão só para eles e não falaram com a família? Para eles, acabou o assunto. Mas para mim, não acabou. Mataram meu filho!", brada o homem, que acredita na reversão do caso na Justiça Estadual e na punição aos policiais militares.
Jardeson Rodrigues gostava de jogar futebol - como fazia pouco antes de ser morto. Em homenagem, os amigos dele proporcionaram o "último gol" ao jovem. Um jogador chutou a bola, que passou pelo goleiro, bateu no caixão de Jardeson e balançou as redes. O vídeo viralizou nas redes sociais e ganhou repercussão nacional.
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